Tesauro de Ética, Política e Epistemologia para Estudos de Informação

Desinformação

Desinformação

BRISOLA, Anna Cristina C. de A. S. Competência crítica em informação como resistência à sociedade da desinformação sob um olhar freiriano: diagnósticos, epistemologia e caminhos ante as distopias informacionais contemporâneas. Orientador: Prof. Dr. Marco André Feldman Schneider. 2021. 295 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro; Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Rio de Janeiro, RJ, 2021. Disponível em: https://ridi.ibict.br/handle/123456789/1165

 

FONSECA, Eduardo Giannetti da. Auto-engano. São Paulo: Companhia, 2005.

 

KAMINSKA, Izabella. A Guerra de informação da Roma antiga dá-nos uma lição sobre notícias falsas. 2017. Disponível em: https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/a-guerra-de-informacao-da-roma-antiga-da-nos-uma-licao-sobre-noticias-falsas-8758218.html. Acesso em: 05 abr. 2022.

 

POSETTI, Julie; MATTHEWS, Alice. A Short guide to the history of 'fake news' and disinformation: a learning module for journalists and journalism educators. [S.L]: Icfj, 2018.Disponível em: https://www.icfj.org/sites/default/files/2018-
07/A%20Short%20Guide%20to%20History%20of%20Fake%20News%20and%20Disinformation_ICFJ%20Final.pdf. Acesso em: 03 ago. 2020.

 

SANTO AGOSTINHO. A Mentira - Contra a mentira. [S.l.]: Paulus, 2019. (Patrística).

 

WARDLE, Claire; DERAKHSHAN, Hossein. Information disorder: toward an interdisciplinaryframework for research and policy making. [S.L]: Council Of Europe, 2017. Disponível em:https://rm.coe.int/information-disorder-toward-an-interdisciplinary-framework-forresearc/168076277c. Acesso em: 15 ago. 2020.

A desinformação não é algo novo, como apontam Izabella Kaminska (2017), Julie Possetti e Alice Matthews (2018), mas sim algo presente na história das sociedades humanas. Pode-se considerar, presume-se, como a arte do engano. Anna Brisola, em sua tese, escreve que “a desinformação não pode ser definida como uma simples ação”, mas sim “um complexo de ações que constroem um cenário intencionalmente determinado” (BRISOLA, 2021, p. 68). Claire Wardle e Hossain Derakhshan afirmam que a desinformação é uma criação deliberada de informação falsa com o objetivo de causar prejuízo a uma pessoa, grupo social ou país (WARDLE, DERAKHSHAN, 2017). No entanto, apesar de enganos propositais causarem, de fato, prejuízos e danos em seus alvos, este complexo de ações que visa construir um cenário manipulado, também pode ser utilizado para manutenção da ignorância, seja das massas, ou de grupos específicos. Em outras palavras, a desinformação pode ser utilizada para proteger interesses por meio de dissimulações e ocultações de fatos.

Eduardo Giannetti da Fonseca, procurando fazer uma pequena análise sobre como os outros animais não-humanos usam a arte de enganar, diz que

 

"o repertório ilusionista gravita ao redor de dois estratagemas básicos. Há o engano por ocultamento, que se baseia em ardis de camuflagem, mimetismo e dissimulação; e há o engano por desinformação ativa, baseado em práticas como blefe, o logro e a manipulação da atenção" (FONSECA, 2005, p. 23).

 

O engano por ocultamento, segundo o autor, deriva de uma ilusão negativa, onde a divergência entre realidade e aparência se firma no desaparecer, no não se fazer notar, em resumo, “em induzir o outro organismo a não perceber o que lá está”[1]. Já na desinformação ativa, o engano consiste no que o autor chama de ilusão positiva. Neste caso, a diferença entre a realidade e a aparência se dá na indução do organismo a perceber coisas que não existem; “a perceber algo, em suma, que não está lá[2]. Então, trazendo as afirmações de Fonseca para a realidade das sociedades humanas, presume-se, de maneira geral, que o que define a desinformação é a intenção do engano, quer esse engano cause danos, quer sirva para preservar ou promover a imagem de uma pessoa ou de um grupo.

Esse tipo de definição nos leva a fazer um paralelo com o conceito agostiniano de mentira. Segundo Santo Agostinho, “mente aquele que tem uma coisa em seu espírito e enuncia outra diferente com palavras ou outros sinais”. O filósofo afirma que o mentiroso possui um coração duplo, ou um pensamento ramificado, onde o indivíduo que mente conhece a verdade, mas não se pronuncia; ou que pronuncia, conscientemente, uma falsidade. Santo Agostinho resume esta questão ao dizer que “a culpa do mentiroso está em seu desejo intencional de enganar”, porque, para o filósofo, “é a partir da intenção da alma, e não pela verdade ou falsidade das próprias coisas, que algo deve ser considerado como verdade ou mentira” (SANTO AGOSTINHO, 2019. p. 18). Se levarmos em conta a definição de mentira que Santo Agostinho nos traz, podemos fazer uma divisão clara entre desinformação e misinformation. Ora, desinforma quem tem a intenção de enganar; mas aquele que passa, inocentemente, uma informação errada – podendo ser falsa, descontextualizada, ou ainda, mal-entendida – não desinforma, mas misinforma, pois não tem a intenção do logro. Pode ser que as origens das misinformations sejam mais amplas que as origens da desinformação, mas é certo que a desinformação pode desencadear misinformations.

Retornando a questão da ilusão negativa e da ilusão positiva que Fonseca levanta, podemos sugerir a existência de dois tipos de desinformação, sendo uma passiva e outra ativa.

A desinformação passiva teria o objetivo de manipular informações para a manutenção da ignorância das massas, ou de grupos específicos, visando a proteção e/ou preservação de imagem de um indivíduo ou grupo. Ou seja, fazer com que determinados fatos não sejam vistos ou percebidos. A desinformação ativa já possui a intenção de causar dano, manipulando informações de modo que o alvo escolhido, seja uma pessoa, grupo, ou país, tenha sua imagem prejudicada e desacreditada. Esse tipo de desinformação expõe fatos inexistentes e força a percepção do irreal, daquilo que é falso.

Apesar de cada tipo de desinformação aparentar ter objetivos específicos, isso não significa dizer que elas não podem trabalhar juntas. Pode ser que alguém mal-intencionado, querendo esconder seus propósitos, se utilize de desinformação passiva para se resguardar, enquanto usa a desinformação ativa para prejudicar seus alvos.

 

[1] FONSECA, 2005, p. 23.

[2]Ibid., p. 23

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Data de criação
28-Ago-2020
Termo aceito
28-Ago-2020
Termos descendentes
0
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Termos específicos
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5
Notas
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